No meio da avalanche de lançamentos pasteurizados, surge uma fagulha de invenção editorial que brilha com a força de quem tem algo a dizer e desenhar. A Mino, casa de quadrinhos conhecida pela excelência gráfica e narrativa, decidiu comemorar seus dez anos do jeito menos previsível e mais simbólico possível: criando um novo selo. Uma que cabe na palma da mão, mas expande o imaginário como um balão cheio de histórias. Nasce assim a Mini-Mino, ou apenas Mini, como os iniciados já estão chamando.
Essa criança editorial, parida pelo coração e pelas entranhas de Janaína de Luna e Pedro Cobiaco, não quer saber de regras de mercado ou fórmulas didáticas. Ela nasce com um pé na fantasia e outro no traço autoral. O objetivo é simples e imenso: publicar livros ilustrados e quadrinhos para “crianças de três a cento e doze anos”. É isso mesmo. Sem a necessidade de explicar, limitar ou normatizar. Apenas criar.
O primeiro passo dessa nova jornada já vem com dois volumes de peso, dois lançamentos que brincam com o impossível e abraçam o improvável. Porque ser criança, ou lembrar-se de que já foi uma, é isso: acreditar que um diário, um cachorro pirado e um fuinhossauro escocês podem te salvar do caos.
Tomás Tomilho e o Fuinhossauro Escocês
É aqui que tudo começa. O garoto Tomás Artimilho, vulgo Tomilho, é expulso do conforto da vida urbana após o divórcio dos pais. Vai parar numa cidadezinha de praia, sem referências, sem amigos, sem desodorante, segundo o próprio pai. E o que ele faz? Se reinventa. Cria. Escreve. Se conecta com um cão desgovernado e um diário que vira companheiro de jornada.
Escrito por Janaína de Luna e ilustrado por Pedro Cobiaco, ambos finalistas do Jabuti, o livro é mais do que uma história para jovens. É uma declaração de amor à adolescência esquisita, aos pensamentos desalinhados, às amizades caninas e ao poder de reescrever o mundo à mão. Com ilustrações que respiram liberdade e um texto que não subestima o leitor, Tomás Tomilho e o Fuinhossauro Escocês é o tipo de livro que dá vontade de sublinhar, colorir, cheirar e abraçar.
Colin para Colorir: Criaturas e Criações da América Latina
Se o primeiro livro fala sobre o futuro, esse aqui é uma homenagem visceral ao passado, mas não qualquer passado. Um passado inventado a partir da memória coletiva latino-americana, desenhado com linhas mágicas por Flávio Colin, o mestre absoluto da arte popular brasileira.
Com direção de arte e textos poéticos de Pedro Cobiaco, e idealização dividida com Janaína de Luna e Ivan Costa, o projeto transforma 20 ilustrações de Colin em páginas destacáveis para pintar, explorar e colecionar. Mas não se engane: isso não é só um livro de colorir. É uma viagem sensorial pelo folclore, pelas lendas, pelos bichos e mitos que carregam o sangue cultural de todo um continente.
Há citações de Mário de Andrade, Câmara Cascudo e Ailton Krenak, como ecos ancestrais entre as páginas. Cada imagem é acompanhada por textos curtos, que informam e encantam, como se o próprio Colin sussurrasse no seu ouvido histórias de onças falantes, florestas vivas e deuses de olhos brilhantes.
Mini, mas gigante
A Mini-Mino estreia como quem pula da beira do penhasco com os braços abertos e um lápis na mão. Ela não quer competir com as grandes. Quer dialogar com os pequenos e, por isso, é imensa. Com estética refinada, conteúdo inteligente e um carinho raro com a experiência do leitor, essa nova fase da Mino mostra que crescer não é só inflar o catálogo, é lembrar como se brinca.
A gente aqui do Mundo Gonzo já tá doido pra ver os próximos lançamentos. E se você é daqueles que acredita que o mundo pode mudar com um bom livro, fique de olho nessa editora que acaba de nascer. Mini no nome, colossal na ambição.