Spawn Apresenta: Os Condenados Vol. 1 — Caos, Correntes e Carnificina na Nova HQ da Panini

Mundo Gonzo
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 OK, seu viciado em correntes e criaturas das trevas! Você berrou pela verdade, aquela que rasga o véu da hipocrisia, sobre "Spawn Apresenta: Os Condenados Vol. 1", o esquadrão suicida particular do Tio Todd McFarlane, agora em português e capa cartão pela nossa gloriosa Panini. E quem sou eu pra meter o bedelho nessa carnificina impressa, você pergunta com seus olhos injetados de curiosidade? Bem, digamos que até a Panini resolveu dar ouvidos ao que falamos, já que o Mundo Gonzo, pela pena profana do seu aqui presente e humilde narrador, Cassiano Pinheiro, meteu sua colher torta (e umas palavras de incentivo altamente questionável) na quarta capa dessa belezinha que você talvez esteja segurando com suas mãos trêmulas. É isso mesmo, estamos literalmente chancelando o apocalipse que está por vir nessas páginas!

 

Olha eu aí

Com essa "autoridade" devidamente estabelecida (afinal, se meu nome tá no gibi, alguma coisa eu devo entender), e com o fígado já acenando a bandeira branca e a mente navegando em águas turvas de café velho e pensamentos impublicáveis, me atirei de peito aberto nesse pandemônio de nanquim e enxofre. Sou fã, não nego. Aquele boneco do Spawn, comprado com as moedas sofridas do meu trabalho lá nos idos de 90 e tantos, ainda me julga silenciosamente da estante, um misto de acusação e irmandade macabra. Mas ser fã de verdade, meu camarada, não é ser líder de torcida paga. Fã que se preze chuta a porta da igreja e pergunta pro padre onde ele escondeu o vinho bom.

 

Então, aperte bem as fivelas do seu visual mais ameaçador, sirva uma lapada daquela bebida que faz o diabo pedir água, e vamos juntos fatiar essa criança do capeta, página por página desse belo (ou não tão belo assim) volume.

A CONVOCAÇÃO DOS MALDITOS: UM INÍCIO COM CHEIRO DE PÓLVORA E DESESPERO (O Começo de "Os Condenados")

 

Três da matina. A lua, uma bolacha de água e sal mordida por um anjo bêbado, espiava pela fresta da persiana. E eu, seu humilde e já meio insano narrador, finalmente tirei do plástico (aquele plástico que a gente ama odiar da Panini) do meu exemplar de "Os Condenados Vol. 1". A proposta? Simples e direta como um tiro de calibre 12 na cara: juntar um bando de Spawns e outros párias do Céu e do Inferno porque, veja só, o Al Simmons original aparentemente tirou férias e o mundo precisava de mais anti-heróis com problemas de controle da raiva. Ou talvez o Tio Todd só quisesse ampliar a linha de colecionáveis e justificar mais um encadernado. Detalhes, meu caro, detalhes...

 


No cardápio deste volume temos: o Ceifador, com seu charme gótico de quem acabou de sair de um show do Sisters of Mercy e foi direto pro apocalipse; o Gunslinger Spawn (ou Pistoleiro Spawn, como alguns preferem), o Clint Eastwood do inferno, com mais sede de vingança do que um escorpião no deserto; o Medieval Spawn, que parece ter fugido de uma feira medieval onde o hidromel era batizado com algo não recomendado; e a She-Spawn, Jessica Priest, a personificação do "chute no estômago com salto agulha", exalando um desejo palpável de transformar tudo em churrasquinho. E, para equilibrar a insanidade, o Redentor, o anjinho caído que parece nunca ter certeza se quer salvar o mundo ou apenas atear fogo nele por puro tédio. Um verdadeiro circo dos horrores de luxo, agora compiladinho pra você.

 

Sean Lewis no comando do hospício verbal, McFarlane dando seus pitacos sombrios, e uma horda de desenhistas se revezando na arte como se estivessem disputando quem consegue desenhar mais correntes, músculos e caretas demoníacas por centímetro quadrado ao longo destas seis edições americanas. O início de "Os Condenados" é um direto no queixo. A arte de um Stephen Segovia ou Paulo Siqueira ( que participa do primeiro número) te joga num liquidificador de detalhes quase insanos, sombras que engolem a luz e respingos de... bem, fluidos questionáveis. É cru, é pesado. Por vezes, admito, é uma avalanche visual que faz seus globos oculares pedirem um spa com água benta. Mas é Spawn! Ninguém compra um gibi do Spawn esperando encontrar um piquenique no campo ilustrado por Beatrix Potter (se você não conhece, dá um google).

 


A trama inicial neste volume? Uma daquelas conspirações globais com russos genéricos de filme B, cientistas com parafusos a menos e um plano maligno para... erradicar os Spawns? Controlar o mercado de almas? Lançar uma nova linha de fast-food com temática infernal? Honestamente, nas primeiras páginas de "Os Condenados", o roteiro parece mais uma desculpa elaborada para justificar a carnificina. E, meu amigo, carnificina é o que não falta. É cabeça rolando, tripas voando, demônios dando chilique. Um espetáculo grotesco de ultraviolência que faria o Paul Verhoeven dos bons tempos se sentir um aprendiz de cineasta de igreja.

 

A dinâmica da equipe? Pense em cinco pitbulls famintos, um porco-espinho radioativo e um pastor alemão com crise de identidade trancados num elevador. É por aí. A desconfiança mútua é tão densa que você poderia cortar com uma foice enferrujada. E isso, talvez, seja o grande trunfo inicial. Quem, em sã consciência, esperaria que um amontoado de sociopatas com poderes do além e traumas do tamanho do Texas fosse sair por aí de mãos dadas cantando "We Are the World"?

 

O CALDEIRÃO FERVE: QUANDO A LOUCURA TENTA ENCONTRAR UM PROPÓSITO (O Miolo de "Os Condenados")

 

Lá pela metade do encadernado, quando seu corpo já implora por clemência e sua sanidade acena um lencinho branco em rendição, a narrativa de "Os Condenados" tenta, veja bem, tenta encontrar um eixo. Os vilões ganham um fiapo de tridimensionalidade (leia-se: continuam sendo uns fracassados, mas agora com um PowerPoint explicando suas motivações duvidosas). A "equipe", aos solavancos e rosnados, começa a desenvolver uma espécie de... tolerância armada. É quase tocante, da forma mais perturbadora possível.

 

O ritmo é de um ataque epilético constante. Crise após crise, confronto após confronto. Você mal tem tempo de processar o último banho de sangue antes que o próximo dilúvio de desgraça comece. Mas essa é a proposta do brinquedo, certo? É uma montanha-russa construída no inferno, sem cinto de segurança, e você está lá, berrando e rindo como um maníaco, sem ter certeza se é de terror genuíno ou de puro deleite perverso.

 


Jessica Priest, a She-Spawn, continua sendo um dos pontos altos neste volume. Ela é a definição ambulante de "problema esperando para acontecer", e cada vez que ela entra em cena, você sabe que alguém vai se dar muito mal. O Gunslinger também mantém sua popularidade, sendo o tipo de personagem "sem frescura" que resolve as coisas na base da bala e da ação direta. Um alívio de simplicidade brutal num mundo de demônios verborrágicos e anjos com complexo de Hamlet.

 

A arte continua seu samba ao longo das páginas d"Os Condenados Vol. 1". Uma página é um primor de detalhes e anatomia distorcida, a seguinte parece ter sido desenhada com um carvão em brasa durante um terremoto. Essa montanha-russa estilística se encaixa na proposta caótica e visceral do universo Spawn. Ou talvez eu só esteja tentando encontrar lógica onde só existe o mais puro e delicioso caos. Quem sou eu pra julgar?

 

O GOSTO AMARGO DA VERDADE: VALEU A PENA?

 

E agora, a questão que queima mais que o fogo do inferno, aquela que me fez sacrificar horas preciosas de sono e sanidade: "Spawn Apresenta: Os Condenados Vol. 1" presta? É a oitava maravilha do mundo em formato de gibi? Ou é só mais um monte de papel pintado pra pegar dinheiro de fã?

 


A verdade, meu caro companheiro de masoquismo literário, é que "Os Condenados" é... "Os Condenados". É exatamente aquilo que se espera de uma HQ do Spawn com cinco protagonistas igualmente problemáticos: um espetáculo de testosterona coagulada, uma orgia de violência gráfica e design de personagem que faz os anos 90 sorrirem para você. É o Tio Todd  colocando o povo para trabalhar em sua forma mais bruta, sem as amarras do politicamente correto, mergulhado até o pescoço nas sombras e na insanidade criativa que tornaram Spawn uma lenda das bancas e das lojas de quadrinhos mundo afora.

 

No fim das contas, se você procura um tratado filosófico ou uma meditação sobre a condição humana... talvez devesse procurar em outro encadernado. Aqui, o que temos é caos puro, sangue fictício jorrando em alta definição e personagens que parecem ter saído direto dos pesadelos coletivos mais sombrios da cultura pop.

 

Eu, particularmente, não trocaria essa experiência por nada, é pura diversão. E agora, se me der licença, vou ali olhar mais uma vez para aquele boneco do Spawn na estante... e ver se ele ainda me julga.

Leia e se divirta

 


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